Traduções em Português por Marta Venturini Machado,
com a valiosa ajuda e colaboração da Alex Polikowsky.
A Lisa Cottrell-Bentley organizou uma Teleconferência com várias pessoas a fazerem vídeos curtos sobre uma série de temas. Foi-me pedido que criasse um sobre o "unschooling" e ele está mais abaixo, com notas e uma transcrição.
A Sandra Dodd tem estado ligada ao "Attachment Parenting" desde 1986 e ao "unschooling" desde que o seu filho mais velho, Kirby, não foi para a escola, em 1990. Ela vive em Albuquerque com o seu marido Keith, o seu filho Marty e a sua filha Holly, que são dois jovens adultos que estão actualmente a frequentar uma "Community College" [nota: uma "Community College" não é propriamente uma Faculdade; nos EUA, são locais, a nível regional, onde se podem frequentar aulas de diferentes áreas durante dois anos, pós-ensino secundário -- para mais informação, ver aqui https://en.wikipedia.org/wiki/Community_college] e a viver vidas ricas e plenas. O Kirby trabalha para uma empresa chamada "Blizzard Entertainment", em Austin. Os três nunca foram à escola, nem tiveram escola em casa ("unschooled" toda a vida), e já passaram todos a idade da escolaridade obrigatória, mas não a idade de aprender! Nem os seus pais.
A Sandra foi professora de Inglês e todos os seus empregos envolveram palavras e ideias e aprendizagem também, e a sua vocação e hobby tornaram-se em ajudar outros pais a encontrar formas de ter vidas mais ricas e pacíficas com os seus filhos.
No vídeo Fazer o "Unschooling" Bem, a Sandra dá-nos sugestões sobre formas de criar e manter um ambiente em que a aprendizagem natural possa florescer.
Olá. Eu sou a Sandra Dodd e gostava de vos dar algumas dicas sobre como Fazer o "Unschooling" Bem.
Este vídeo foi criado para a Teleconferência "Fazer a Vida Bem", em 2012.
Não existe uma única maneira certa de se fazer "unschooling", mas existem muitos caminhos que, em última análise, podem conduzir-nos para longe do sucesso, por isso eu gostava de delinear um mapa sobre como se podem tornar pais bem sucedidos na forma como fazem o "unschooling".
O "unschooling" baseia-se no movimento da reforma escolar e na investigação do final da década de 60 e início da década de 70. O John Holt escreveu, nessa altura, sobre a reforma escolar, mas nos finais dos anos 70, ele recomendava que os pais ficassem com os seus filhos em casa.
Nos Estados Unidos da América, a escola em casa começou nos anos 80, com os cristãos fundamentalistas que achavam que as escolas não controlavam os seus filhos suficientemente bem e que lhes davam demasiada informação. Mas o "unschooling" já estava a ser feito por famílias que sentiam que as escolas eram demasiado controladoras e que davam informação de menos. Ora aí está uma dicotomia e tanto.
O John Holt escreveu: 'Aos pais eu digo, acima de tudo, não deixem que as vossas casas se transformem numa terrível cópia em miniatura da escola. Não aos planos de estudo! Não aos questionários! Não aos testes!'
A minha definição de "unschooling" é 'criar e manter um ambiente em que a aprendizagem natural possa florescer'.
O ambiente de que falo -- aquilo a que muitas vezes chamamos um ninho para o "unschooling" -- não é, contudo, apenas a casa em termos físicos. São as relações dentro da família e a exploração do mundo fora de casa pelos pais e pelas crianças juntos. O ambiente emocional é crucial -- as relações.
Existe outro conselho muito bom, genérico, não apenas em relação ao "unschooling", mas para tudo o que se possa querer aprender.
Leiam um pouco, experimentem um pouco, esperem um pouco, observem.
Leiam mais um pouco... Experimentem mais um pouco...
E, gradualmente, vão notar cada vez mais a aprendizagem a acontecer e rapidamente ela vai estar a acontecer a toda a hora!
Os pais têm de se tornar "unschoolers"—têm de se tornar pais que fazem "unschooling"—e o processo não acontece todo de uma vez.
Primeiro, aprendam sobre a aprendizagem.
Não sobre a escola e esse tipo de aprendizagem, mas aprendam de que forma é que a aprendizagem no mundo real, a aprendizagem natural acontece.
Pensem na forma como os bebés e as crianças pequenas aprendem.
Pensem na forma como aprenderam a jogar jogos, a cantar canções, a cozinhar ou a consertar ou a construir coisas, fora da escola.
Enquanto estiverem a descobrir novas formas de ver o mundo, o vosso filho irá estar a aprender brincando e fazendo perguntas. Sejam parceiros do vosso filho, não adversários.
Este foi o melhor conselho que alguma vez me deram e veio da Liga La Leche. Sejam parceiros do vosso filho, não adversários.
Ajudem-no a encontrar e a fazer e a explorar as coisas em que está interessado.
Encorajem-no. Facilitem e ajudem. Vejam tudo o que há de bom no vosso filho.
Sejam o tipo de pessoa que querem que o vosso filho seja.
Alimentem a vossa própria curiosidade e alegria.
Descubram a gratidão e a abundância na vossa vida.
Explorem. Façam associações, sozinhos.
Partilhem-nas com os vossos filhos, quando forem interessantes.
Descubram e encontrem-se com outros "unschoolers" e copiem aqueles cujas relações entre os membros da família, e cuja compreensão daquilo que é a aprendizagem, pareça ser a melhor.
Leiam um pouco. Experimentem um pouco. Não façam aquilo que não compreendem.
Esperem um pouco. Provavelmente não irão ver uma mudança imediata. Mas não desenterrem as vossas plantas pela raíz para ver se elas estão a crescer. Isso não é bom nem para as plantas, nem para as crianças. Sejam pacientes. Confiem que a aprendizagem pode acontecer, se lhe derem tempo e se lhe derem espaço.
Olhem para os vossos próprios filhos. Eles estão calmos? Estão felizes? São curiosos e estão interessados nas coisas? Não estraguem a calma deles ou a alegria deles, com limites arbitrários ou com vergonha ou com pressão. Sejam parceiros deles.
O Abraham Maslow disse, na sua hierarquia de necessidades, que a aprendizagem não pode acontecer quando as pessoas têm medo ou estão com fome, por isso alimentem os vossos filhos alegremente.
Partilhem comida e sorrisos e risadas.
Vejam filmes juntos.
Ouçam música.
Explorem a internet. Sigam trilhos de informação. Façam associações. Toquem nos vossos filhos docemente. Cheirem as suas cabeças. Deixem-se relaxar numa valorização da presença de cada criança na vossa vida.
Se conseguem visionar o tipo de relação e a vida de aprendizagem que querem ter, então, de cada vez que fizerem uma escolha, escolham aquela que vos leve para mais perto desse objectivo. Aprendam a fazer várias escolhas por dia e escolham as opções mais pacíficas e afectuosas, sempre que possam.
Escolham tornar a vossa vida mais positiva e menos negativa. Não consigo enfatizar isto o suficiente.
As famílias que eu vejo falhar são negativas.
Elas agarram-se ao seu negativismo. Elas agarram-se ao cinismo e ao pessimismo. Deitem tudo isso fora.
Escolham o optimismo.
Escolham a alegria.
Algumas coisas não são possíveis, mas não tenham regras arbitrárias.
Se disserem que não, digam que não por um motivo real, por um bom motivo.
Considerem dizer que sim mais vezes. É saudável.
Criem memórias boas para os vossos filhos.
Olhem directamente para o vosso filho sem filtros ou rótulos. Até um recém-nascido é a pessoa que irá ser quando for adulta e envelhecer.
Os bebés não são futuros adultos. São pessoas inteiras. Ajudem-nos a manter-se inteiros e a crescer, sem estarem danificados pela mágoa e pela vergonha. O meu marido, Keith, disse uma vez, quando alguém lhe perguntou o que é que nós esperávamos conseguir fazendo "unschooling" com os nossos filhos, ele disse que queríamos que crescessem sem estarem danificados.
Se conseguir aprender a escolher viver uma vida de aprendizagem e de alegria com os vossos filhos, o "unschooling" pode resultar convosco.
Obrigada por estarem a ouvir 'Fazer o "Unschooling" Bem'. Para acederem a links com recursos gratuitos da Joyce Fetteroll, Pam Laricchia e outros grandes pensadores e autores do "unschooling", vão, por favor, a SandraDodd.com.
Mas, antes disso, vão fazer qualquer coisa amorosa a uma criança.
E depois, Leiam um pouco, experimentem um pouco, esperem um pouco e observem.
A Colleen Prieto escreveu isto na altura em que eu estava a falar com as pessoas sobre o facto de ter concordado em fazer este vídeo. Ela não quer ser filmada a dizer isto, mas, quando eu o li, mais tarde, desejei ter dito todas estas coisas. Por isso, como adenda, aqui vai o que a Colleen pensou que eu devia ter considerado dizer. :-)
Olhem para os vossos filhos. Olhem mesmo para eles e vejam quem *eles* são e não quem vocês queriam que eles fossem. Conheçam-nos. Sejam simpáticos com eles. Mais que simpáticos. Sejam gentis com eles. Amem-nos e beijem-nos e abraçem-nos e Estejam com eles. Brinquem com eles. Ouçam-nos. Falem com eles, não para eles. Sejam pacientes e calmos.
Amem o vosso cônjuge ou parceiro, se tiverem um. Sejam simpáticos e gentis e pacientes também com o vosso cônjuge ou parceiro. Amem-nos e abraçem-nos e vejam quem eles são realmente, sem tentarem fazer deles quem vocês querem que eles sejam.
Lembrem-se que são uma pessoa importante e agarrem os momentos em que podem descansar, ou comer, ou respirar, ou parar, para que se possam manter num sítio feliz quando os vossos filhos ou o vosso cônjuge/parceiro estiverem cansados ou rezingões.
Encham a vossa casa de paz, brinquedos, coisas interessantes, boa comida e amor. Criem abundância, e não escassez, mesmo que tenham muito pouco, em termos de recursos financeiros. O amor e a paz e a felicidade não custam nada. :-)
Digam "sim" muitas vezes. Façam coisas e vão a sítios e explorem o mundo juntos na vossa família -- quer o mundo, para vocês, seja o vosso quintal, o vosso bairro, a vossa cidade, o vosso país ou uma porção enorme do globo.
Partilhem as vossas paixões ou interesses com os vossos filhos e com o vosso companheiro e deliciem-se com as deles.
Apercebam-se que a vossa vida de "unschooling" e a vida de "unschooling" de outra pessoa não vão parecer exactamente o mesmo e isso é porque os vossos filhos e os filhos dessa pessoa, o vosso parceiro e o parceiro dessa pessoa, a vossa casa e a casa dessa pessoa, os vossos interesses e os interesses dessa pessoa... não são os mesmos também. Mas, de qualquer forma, leiam, conversem e pensem sobre aquilo que estão a fazer, e ouçam aquilo que os outros estão a fazer. Aprendam com o exemplo das pessoas que já estiveram no vosso lugar e sejam um exemplo para aqueles que virão depois de vocês, no caminho do "unschooling".